A Origem do Medo
Como o medo – do amanhã, de
perder o emprego, da morte, da doença, da dor – é gerado? O medo
envolve um processo de pensamentos sobre o futuro, ou sobre o passado.
Tenho medo do amanhã, do que pode acontecer. Tenho medo da morte que
ainda está longe, mas mesmo assim me amedronta. Bem, o que é que gera
esse medo? O medo sempre existe em relação a alguma coisa. Se não fosse
assim, não haveria medo. Temos medo do amanhã, do que passou e do que
está por vir. O que cria o medo? Não é o pensamento?
O pensamento é a origem do medo
O
pensamento gera o medo. Penso que perdi o emprego, ou que poderei
perder, e esse pensamento cria medo. O pensamento sempre se projeta no
tempo, porque pensamento é tempo. Penso na doença que tive, e como não
gostei de sofrer tenho medo de que o sofrimento possa voltar. Senti dor,
e pensar nisso, não querer senti-la de novo, cria medo. O medo está
estreitamente relacionado ao prazer. A maioria de nós é guiada pelo
prazer. Para nós, assim como para os animais, o prazer é da máxima
importância e faz parte do pensamento. Quando penso em algo que me deu
prazer, esse prazer aumenta. Concorda? Já notou isso? Você teve uma
experiência de prazer – olhando o pôr-do-sol, ou fazendo sexo-, e pensa
naquilo. Pensar na experiência aumenta o prazer, assim como pensar na
dor que teve gera medo. Então, o pensamento cria o prazer e o medo, não é
verdade? O pensamento é responsável por desejarmos o prazer e
querermos que ele continue, da mesma forma que é responsável por
sentirmos medo. Qualquer um pode ver isso, é um fato real,
experimentável.
Então, alguém pergunta: “É possível deixar de pensar no prazer e na dor, é possível pensar apenas quando o pensamento é requisitado, nunca de outro modo?” Quando você está trabalhando em um escritório ou fazendo qualquer outro trabalho, o pensamento é necessário; do contrário, nada poderia ser feito. Quando você fala, escreve, vai para o trabalho, o pensamento é necessário. Mas o pensamento é necessário em qualquer outro campo de ação?
Por favor, preste atenção. Para nós, o pensamento é muito importante, pois é o único instrumento que temos. O pensamento é a reação da memória, que se acumulou através de experiência, conhecimento, tradição. A memória é o resultado do tempo, foi herdada do animal. E é com essa formação que reagimos. Essa reação é pensar. O pensamento é essencial em certos níveis , mas quando se projeta psicologicamente como futuro e passado, cria o medo, assim como o prazer. Nesse processo a mente fica entorpecida e, desse modo, a inação é inevitável. Senhor, o medo, como já dissemos, é criado pelo pensamento. Pensamos na possibilidade de perder o emprego, de a esposa fugir com alguém, pensamos na morte, pensamos que já passou e assim por diante. Pode o pensamento parar de pensar no passado ou no futuro, psicologicamente, autodefensivamente?
Atenção sem um centro
Alguém
pergunta: “ É possível o pensamento acabar de modo que se possa viver
plenamente?” Você já notou que quando dá atenção completamente a alguma
coisa não há nenhum observador e, portanto, nenhum pensador, não há um
centro onde você se coloca para observar?
A atenção elimina o medo
Quando
você presta essa atenção, não há absolutamente nenhum observador. E é o
observador que gera medo, porque é o centro do pensamento, é o “mim”, o
“eu”, o ego. O observador é o censor. Quando não há pensamento, não há
observador. Esse estado não é inerte. Exige muita investigação, nunca
aceita coisa alguma.
Do
livro: O que você está fazendo com a sua vida? < Passagens
selecionadas sobre as grandes questões que nos afligem – Capítulo: Medo.
pág. 81 a 87>
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