Uma Reflexão - Confiança




Confiança é o ato de deixar de analisar se um fato é ou não verdadeiro, entregando essa análise à fonte de onde provém a informação e simplesmente considerando-a. Se refere a dar crédito, considerar que uma expectativa sobre algo ou alguém será concretizada no futuro. Aceitar a própria decisão de outra pessoa. Confiar em outro é muitas vezes considerado ato de amizade ou amor entre os humanos, que costumam dar "provas" dessa confiança. Sem essas provas, o indivíduo tende a basear-se apenas na informação dada (ou a falta dela) acabando por seguir provavelmente uma linha de pensamento longe da verdade.
Confiança é o resultado do conhecimento sobre alguém. Quanto mais informações sobre quem necessitamos confiar, melhor formamos um conceito positivo da pessoa.
 -Fonte: Wikipédia



Onde está a confiança?

Costumamos afirmar que "não confiamos em algo" como se a confiança brotasse do indivíduo e partisse para o objeto quando, na realidade, deveríamos afirmar que "algo não nos passa confiança", pois esta percorre o caminho contrário da crença popular.
Se você não confia em algo, não é por você achar que este não seja digno de confiança, mas sim por não lhe passar a confiança necessária. Imaginemos um casal recém formado - no auge de seu envolvimento sentimental. Nesta situação, podemos dizer que eles confiam um no outro cegamente, pois não houve a desvirtuação da confiança, ou seja, alguma experiência que venha a fazer um desconfiar do outro.
Isso é algo certo ou então, envolvidos pela paixão, eles param e desenvolvem uma desconfiança a priori um pelo outro? Eles poderiam chegar a tal nível relação com uma desconfiança logo no princípio, com uma razão elevada? Não, pois a razão não permite tal envolvimento, não permite uma paixão a este ponto, ou melhor, a razão não permite uma paixão, deste modo está descartada uma desconfiança logo no início.

Então é errado dizer que a confiança vem do objeto para o sujeito, já que se toma a confiança a priori diante da paixão? Claro que não, confiar é um ato racional, é medir os prós e os contras de algo, a verossimidade, a procedencia, a realidade de algo para se poder crer, acreditar. Deste modo, a paixão é um elemento que não permite se fazer uma reflexão apurada da confiança.

Fora do âmbito da paixão, num relacionamento estável podemos falar da confiança racional, então não é de qualquer confiança que falamos aqui, mas sim de uma confiança provida de um arcabouço de racionalidade, uma confiança refletida e não simplesmente considerada sem nenhum tipo de segurança, uma confiança não automática. É este tipo de confiança, de crença que nos interessa. Voltando ao exemplo, podemos verificar aqui que, apesar da paixão (sentimento que os envolve), há uma racionalidade, pois não chegaram a este ponto à toa. Neste caso a confiança está presente, podemos observar efetivamente aqui a proposição: "tal coisa ou pessoa não me passa confiança". Vejamos:

Imaginamos o casal vivendo em harmonia, sem discussões relacionadas à desconfiança. Este estado só é possível pelo fato de os conjuges passarem segurança um para o outro. Vamos tomar como exemplo um deles apenas, este será o sujeito. Por que o sujeito, o homem por exemplo, confia na mulher? O homem confia na mulher simplesmente por que ela passa confiança para ele, pois não é visto no relacionamento discussóes referentes à confiança. Se ela não passasse confiança, seria aberta a possibilidade para ele discutir com ela qualquer coisa referente à confiança. Ora, faz sentido se discutir sobre confiança sem decorrer de nenhua premissa? Não, logo, alguém só discute sobre confiança se houver premissas para serem discutidas, ou seja, motivos que levem o sujeito a desconfiar.

É deste modo que a confiança se mostra algo fruto da razão e tem inicio no outro, na ação, no comportamento do outro. Podemos ver que é o outro que me passa a confiança, é o outro que me faz confiar nele em detrimento dele mesmo. Compreendida esta questão, podemos passar para outra que tambem é de suma importancia: Em que momento a confiança dá lugar à desconfiança?


Em que momento a confiança dá lugar à desconfiança?

Seguindo os argumentos acima, imagine que o casal em questão passe por um pequeno abalo. Ainda tomando o homem como sujeito, imagine que em certa ocasião este acabe por cometer um pequeno deslize, digamos que ele havia dito à sua cônjuge que chegaria em casa fora do horário normal por consequência de uma reunião onde o mesmo poderia ser promovido. Pronto! Temos a situação. Agora imagine que a reunião aconteça de fato e que ele realmente seja promovido (até este ponto, nada fora do padrão), ele sai para comemorar com os demais colegas de trabalho e volta para casa alcoolizado. A mulher estava ciente de que o marido não voltaria no horário habitual, entretanto, ao deparar-se com ele em estado alterado, acaba por se indagar se realmente pode acreditar, ter fé nas ações do mesmo. Este único evento, cria uma dúvida ("Posso eu realmente acreditar nesta pessoa?") e com ela, uma insegurança.
Uma vez instalada a insegurança, raramente pode-se reverter o caso, pois a insegurança em si emana da pessoa digamos, "traída". Até o ponto onde se tem a confiança há a segurança e estas dependem do OUTRO, já a insegurança parte do EU e, mesmo que o outro faça todo o possível para evitá-la não há meios de ele obter sucesso, pois a insegurança é parte da própria pessoa.

Em suma, a confiança passa seu lugar para a desconfiança assim que a segurança é abalada, tornando a insegurança cada vez maior e nociva. Quem confia não vigia, não se preocupa com o que o outro está fazendo, já quem perde esta confiança está sempre preocupado com o paradeiro, vigia constantemente as ações e relações do mesmo e, mesmo que saiba sempre onde o outro está, com quem está e o que faz, este se torna totalmente insensível ao outro, vendo somente aquilo que cria - nada além daquilo que ele quer ver no outro - (sempre o pior, sempre o mais negro, sempre o mais terrível).


Quem sofre com a falta de confiança?

Ninguém sofre mais com a insegurança, do que o próprio inseguro. Trata-se de um grande desperdício de energia e de vida!
Quem sofre tanto com este problema faria por bem ocupar-se mais (atentar) para aquilo que ele ENTREGA no relacionamento, e menos, com aquilo que ele RECEBE.

Há uma grande responsabilidade envolvida naquilo que entregamos nas relações com os outros, pois existem "cargas letais" para um relacionamento legítimo e a insegurança é, sem dúvida, um tipo de influência muito nociva.

Assumir a responsabilidade pelo que entregamos nos faz retomar o foco em nós mesmos (e naquilo que emana do EU), assim como nos faz parar de criticar tanto ao outro, como se ele fosse o nosso "obstáculo de plantão" na jornada/caminhada na direção da felicidade e da plenitude.




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